O TESTE DO MEDO DEU POSITIVO

Os homens-presidentes, a maioria, africanamente falando, são fracos. Medrosos! Covardes! Golpistas constitucionais, capachos dos ex-colonizadores. Escravocratas pós colonizações, fortes com fios, pulseiras de ouro, fatos ocidentais e a couraça blindada de armas e canhões da OTAN (e de Moscovo, também), que lhes garante um anacrónico e, muitas vezes, longevos consulados no poder, que impõe a fome e a miséria aos povos.

Por William Tonet

Mas, quando o ventinho da indignação social começa a turbinar junto das boçais e porcas “ventanas traseiras”, os calafrios agigantam-se gritando: “ditadores de todo mundo unamo-nos”. Expoente da máxima populis: “Quem tem cú tem medo”… Eles, muitíssimo.

É o merdoso ditatorial na máxima expressão!

Os actuais presidentes em África (pouquíssimos são líderes), por sinal os que mais têm atentado contra os ditames das liberdades, cidadania representativa e democracia, estão a tremer as varas com os novos golpistas, que eles ensinaram e potenciaram, ao longo dos anos quando subvertiam, ao vivo e a cores, as Constituições e leis eleitorais.

É estarrecedor, melhor, foi e, até agora, não consigo descodificar a latitude verbal do presidente do meu país, ao declarar uma guerra frontal contra os golpistas, que decidiram abandonar os quartéis, não para proteger urnas falsificadas, mas alojar-se, no poder para inverter, ao menos a céu aberto as regras de governação.

“É importante que a comunidade internacional não dê sinais ambíguos face à tomada do poder por meios inconstitucionais, devendo abster-se de atitudes e comportamentos que desautorizem as organizações regionais e continentais e que possam ser interpretadas como de encorajamento aos golpistas”, pontualizou, João Lourenço.

Indo mais longe insinuou para as organizações internacionais discriminarem, exclusivamente, os actores político-militares, como forma destes não terem assento no mesmo palco, quiçá com os golpistas constitucionais.

A mensagem é contundente. Mas derrapou já na esquina narrativa, no 15 de Setembro de 2023, em Havana na cimeira do G77-China, sendo consabido, que na prévia desta cimeira, o proponente se havia, reunido, preocupadamente, com dois longevos golpistas / ditadores e assassinos da democracia, nomeadamente, Sassou Nguesso do Congo-Brazzaville e Teodoro Obiang Nguema Mbasogo da Guiné Equatorial.

Com este acervo de inversão da lógica, o pensamento de João Lourenço é comparado ao típico cinismo barroco, que não produz eco junto dos destinatários, ao ponto de estimular o “poste” militar da Guiné Conacri, Mamadi Doumbouya, a rememorar, no mesmo palco (NY-América), a veia discursiva de esquerda de Fidel de Castro, nas Nações Unidas, quando fardado se rebelava, contra o colonialismo, capitalismo e imperialismo.

Doumbouya acusou alguns líderes em África de se agarrarem ao poder por qualquer meio, chegando a alterar a Constituição, para benefício próprio, em detrimento dos anseios dos povos.

“Nós, africanos, somos insultados pelas caixas, pelas categorias que ora nos colocam sob a influência dos americanos, britânicos, franceses, chineses e dos turcos. Hoje, o povo africano está mais desperto do que nunca e determinado a tomar o seu destino nas próprias mãos”.

Quanto a interferência de alguns capachos africanos, países desenvolvidos e do Ocidente intervir nos desafios políticos de África, foi peremptório: “Nós, os africanos, estamos exaustos pelas categorizações com as quais todos nos querem enquadrar”.

E sobre as alterações de poder, Doumbouya terá, dentre outros respondido a João Lourenço:

“Os golpes que têm ocorrido em África são tentativas dos militares que decidem salvar os seus países das maldades governativas e promessas não cumpridas dos presidentes. Os líderes globais também devem olhar e abordar as causas profundamente enraizadas no continente, porque golpista não é apenas a pessoa que pega em armas para derrubar um regime”.

E numa magistral contundência, como se tivesse ciência das alterações da Constituição, legislação eleitoral e da comunicação social, em 2021 em Angola rematou: “Quero que todos estejamos bem conscientes do facto de que os verdadeiros golpistas são aqueles que evitam qualquer condenação, e que trapaceiam para manipular o texto da Constituição, a fim de permanecerem no poder eternamente”.

Afinal, para Doumbouya e restantes parceiros (Mali, Tchad, Burkina Fasso, Níger, Gabão, Sudão, etc.) não existem mãos invisíveis (no caso, russas) a estimular estes golpes militares, como aludiu, na Assembleia Geral da ONU, João Lourenço.

As mãos invisíveis, cada vez mais visíveis, são a má gestão, a corrupção da oligarquia governante, a fome, miséria, injustiça, falta de educação e saúde, ditadura e entrega da soberania económica ao capital estrangeiro. Angola é disso um exemplo. 48 anos depois, os angolanos vivem sob uma nova colonização, em que os estrangeiros dominam e têm a posse, propriedade e controlo de todo tecido empresarial, incluindo banca comercial e terras aráveis, uns chegam a ter montanhas, vales e… até rios, nas fazendas…

Uma pergunta se impõe: porquê que presidente e presidentes têm medo da nova compreensão dos povos sobre liberdades, alternância e democracia, que condenam as formas sub-reptícias de golpes e permanência inconstitucional no poder de regimes autoritários?

Depois de décadas de acomodação ele(s) estava(m) envaidecido(s) por substituir(em) e adoptar(em) a cultura ocidental, no que esta tem de pior, com a elástica impunidade, e que, “agoramente” (como diz o povo), o chão começa a fugir-lhes, abrindo crateras da nova aurora, que os leva a tremer as pernas, que nem moscas “sheltoxicadas”.

A geografia mental dos povos tem outro entendimento, sobre golpismo, que, paradoxalmente, os golpistas engravatados, a partir dos seus palanques palacianos fingem desconhecer. São grandes os malefícios da arrogância, discriminação, exploração, novo colonialismo impostos a maioria dos povos, daí estar a emergir o BASTA!

Isso, porque, eles, não são perpétuos, também, morrem, ainda que, covarde e celestialmente, no exílio, mas morrem!

Apesar de alguns cidadãos descrentes, nas governações e alternâncias locais decidirem legitimamente sonhar com um futuro melhor (vejam quantos angolanos e africanos), atravessa os oceanos, com os riscos daí inerentes. Muitos morrem nos mares, sem bússola de regresso, ou nos muros e arames farpados das discriminatórias e severas fronteiras ocidentais, sem direito a registo nas estatísticas oficiais.

Mas naquela hora eleitoral, quando os vivos conscientes os sanciona nas urnas, os golpistas de colarinho branco, os ressuscitam para votar…

O exemplo de 2022, está à mão de semear. Os angolanos conheceram a fórmula ameaçadora com o desfile de um arsenal bélico, para ciência de todos quantos ousassem, confrontar os dados estatísticos adulterados da CNE – Partidocrata (Comissão Nacional Eleitoral), teriam chumbo, canhões.

Este é o modus operandi dos órgãos eleitorais ditatoriais, que prevalece há mais de 60 anos, no continente berço: subversão da norma votante… (In)felizmente, no Gabão não pegou, porque os 62% que atribuíam a Ali Bongo (26 de Agosto 2023), não correspondia a estatística mental dos votantes, quando no 30.08.23, o general Brice Oligui Nguemai saído dos quartéis exibiu as provas da fraude. Mais grave, não havia base social de apoio a favor do dito vencedor (Ali Bongo Ondima), sem a cumplicidade dos militares, pois os civis não se indignaram, com a mudança, pelo contrário, manifestaram-se favoráveis às novas autoridades.

Este vento de mudança abaixo do Sahel, determinou a rápida mobilização do “Triângulo Autoritário”, reunido em duas Cimeiras, primeiro, aos 31 de Agosto entre Lourenço e Sassou e depois no 04.09.23, entre Lourenço e Nguema, ambos golpistas militares (Congo + Guiné Equatorial) que tiveram a topetice de em comunicado “condenar a tomada de poder pela força no Gabão. Apela-se ao respeito pela integridade física do Presidente Ali Bongo Odimba e de sua família, bem como das altas entidades das instituições do Estado, face à mudança inconstitucional de Governo protagonizada por um grupo de militares, após a divulgação dos resultados eleitorais, que deram vitória a Ali Bongo”.

Este e outros comunicados não expressam solidariedade, nem preocupação com a democracia e transparência eleitoral, mas temor pelo despertar popular, capaz de retirar ditaduras do poder.

O cidadão está cansado de ser excluído do orçamento e nunca ouvir preocupação presidencial contra a fome, miséria, desemprego, mas um verdadeiro combate contra os pobres (zungueiras, ambulantes, manifestantes, assassinados, todos os dias), para favorecer a continuidade do domínio colonial ocidental, inimigo feroz da transformação das riquezas nacionais, da auto – suficiência alimentar, da reforma agrária, das injustiças grosseiras, da constituição partidocrata e falta de órgãos de soberania fortes.

Mais do que condenar os golpes de Estado militares, noutras latitudes é preciso ter ciência dos VENTOS SOMBRIOS, que pairam sobre o país, face ao aumento do desemprego, inflação, alto custo da cesta básica, domínio da soberania economia pelo capital estrangeiro, capazes de a qualquer momento, estalar o verniz da frágil estabilidade.

Outrossim, a entrega do Corredor do Caminho-de-Ferro, exclusivamente, a investidores estrangeiros, marcadamente americanos, demonstra a aversão e o maior erro do Executivo contra os empresários angolanos.

Ademais, o estranho anúncio de reequipamento militar anunciado amplamente pelo Presidente da República e o ministro de Estado, Francisco Furtado, com os Estados Unidos, através do secretário de Defesa Lloid Austyn está a causar um sério mau estar no Ministério da Defesa e EMG das FAA. Os assessores russos, incluindo o principal do Comandante-em-Chefe, desconhece os contornos e riscos da parceria estratégica com os USA.

Corre nos corredores a forte suspeita de que a base marítima do Soyo possa ser aberta a navios de guerra americanos, pese a Constituição proibir bases militares estrangeiras, tudo indica haver um pré-acordo para os navios de guerra dos Marines para melhor viabilizarem o controlo da rota do Golfo da Guiné, rica em hidrocarbonetos.

Estas situações se não forem devidamente analisadas entre os actores políticos, podem estimular explosões sociais incalculáveis.

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